Uma história torna-se mística a partir do momento em que teve parte de seus acontecimentos incompreendidos por quem a vivenciou ou no caso em que envolveu investigação de autoridades policiais e estas não foram capazes de resolver o ocorrido. A realidade não compreendida abre um hiato levando a consciência à desorientação e em casos extremos, como na história seguinte, ao pânico. Portanto, se você é suscetível à histórias com teor sobrenatural, apavore-se porque este é o caso dos...............
GASEADORES LOUCOS - FATOS INSÓLITOS - PARTE 2
31 de agosto de 1944, Mattoon, Illinois. O verão americano aproximava-se do fim e as primeiras brisas frias do ártico já anunciavam a próxima estação, que para a pequena população de 16 mil habitantes de Mattoon seria de ansiedade pelo fim da guerra na Europa e de terror pelos ataques de um suposto agressor fantasma.
O agressor fantasma de mattoon teve sua primeira aparição em 31 de agosto quando um morador acordou passando mal e dirigiu-se ao banheiro para vomitar. Ao voltar para o quarto, perguntou para sua esposa se ela esquecera o gás ligado. Com uma resposta negativa, ele tentou levantar-se da cama e ir verificar, quando percebeu que não conseguia mais se mexer. Em outra parte da cidade, uma jovem mãe também tentou levantar-se para cuidar da filha que tossia mas, não conseguia levantar-se.
Na noite seguinte, um cheiro doce e enjoativo no quarto, acordou a sra. Bert Kearney. Quando o cheiro ficou mais forte, ela conta, "comecei a sentir as pernas e a parte de baixo do corpo paralisadas. Fiquei com medo e gritei". Uma hora e meia depois, quando o marido chegou em casa, de volta do trabalho, havia um homem estranho junto à janela do quarto. Kearney descreveu-o como sendo "alto, de roupa escura, usando um gorro justo". Saiu atrás dele, mas o intruso fugiu.
Quando estes eventos aconteceram, ninguém ainda ouvira falar do "gaseador louco", em inglês "The Mad Gasser of Mattoon", ou do "anestesista fantasma", e o que quer que os tenha inspirado, não dever ter sido simplesmente uma histeria coletiva.
Com os incidentes se tornando de conhecimento público, a imprensa local levou o caso em seriedade anunciando muitas outras vítimas e atemorizando a população de Mattoon.
Os supostos ataques do fantasma gaseador aumentaram nas noites seguintes com a polícia recebendo dezenas de telefonemas de moradores apavorados dizendo estarem sendo atacados e passando mal com gás que se espalhava por suas casas. Ao chegar nos locais de ocorrência, os policiais encontravam moradores paralisados e com cheiro de gás em alguns caos, e moradores passando mal mas, sem cheiro de gás em outras ocorrências. Em todos os supostos ataques, ninguém vira o gaseador mas, em 05 de setembro, quando um casal voltava para sua casa, a esposa encontrou um pano branco junto à porta da frente. Ela o apanhou e, quando o cheirou, conta, "Tive a sensação de ter encostado numa corrente elétrica. Isso percorreu todo o meu corpo até os pés e depois pareceu fixar-se nos joelhos. Era uma sensação de paralisia". Logo, os lábios e o rosto começaram a arder e inchar, a boca a sangrar, e ela vomitou.
Estes sintomas já tinham acabado quando a polícia chegou, visita que produziu o que parecia ser a primeira prova material: uma chave-mestra e um tubo vazio de batom perto do lugar onde o pano fora encontrado. Mas, no instante em que os policiais interrogavam o casal, uma mulher, em outro ponto da cidade, ouvia os ruídos de um intruso à janela do seu quarto. Ela nem conseguia se sentar, pois, o gás lançado em seu quarto deixou-a imóvel por muitos minutos.
Por volta de meia-noite, outra mulher chamou a polícia para dar queixa de um homem que tentara arrombar sua porta. Segundo as notícias da imprensa, o homem correspondia à descrição genérica do gaseador, fosse o que fosse. Talvez esta notícia nada tivesse haver com o anestesista fantasma, se é que ele existia, mas, para a imprensa era e, quanto mais se divulgava nos jornais e estações de rádio, o pânico aumentava.
Com o passar dos dias e a continuação dos ataques, a população estava furiosa porque a polícia local ainda não conseguira capturar o agressor. Com isso, cidadãos armados passaram a patrulhar as ruas à noite. O xerife local dizia que o gaseador existia mas que muitos dos ataques era caso de histeria. Os boatos corriam soltos: o gaseador ou era um lunático ou um inventor excêntrico.
Os ataques sucederam-se e as chamadas para a polícia também. Esta, com o tempo, começou a ficar mais evasiva com a ausência de provas concretas e passou a tratar os telefonemas como trotes embora houvesse casos de pessoas atendidas no hospital local com sintomas de intoxicação por gás. Sem saber como agir neste caso sinistro, a polícia e as autoridades civis de Mattoon organizaram uma conferência de imprensa onde disseram que o que aconteceu todos aqueles dias foi um caso de histeria coletiva e que o cheiro de gás sentido em alguns locais poderia ser de uma indústria química que havia na região.
Apesar da negativa oficial de sua existência, o gaseador fez uma última visita. Na noite do dia 13, uma testemunha viu uma mulher com roupa de homem lançar gás na janela do quarto da moradora Bertha Burch que, na manhã seguinte encontraram pegadas de saltos altos embaixo da janela. Este talvez seja o caso mais interessante ocorrido em Mattoon. Vamos ver porque.
UM CASO PRECEDENTE
Os psicólogos na época concluíram que a culpa pelo pânico cabia à sinistra cobertura da imprensa local em Mattoon e que era tudo mesmo um caso de histeria coletiva.
Desconhecido dos psicólogos e da maioria dos comentaristas do caso de Mattoon, era uma série de eventos semelhantes acontecidos muitos anos antes no condado de Botetourt no estado da Virgínia em dezembro de 1933 e janeiro de 1934. Tais acontecimentos ficaram restritos ao noticiário local e é improvável que alguém em Mattoon tivesse ouvido falar deles.
Na Virgínia o primeiro ataque teria ocorrido numa fazenda e todos os membros de uma família passaram mal após sucessivas inalações de um gás misterioso. Algumas das vítimas disseram ter visto um homem fugindo na escuridão. Um policial que chegou entre o segundo e terceiro ataques encontrou uma única pista, a pegada de um salto de mulher embaixo da janela através da qual se achava que o gás tinha entrado. O policial foi embora e pouco depois os ataque de gás continuaram.
Os ataques aumentaram na região e aconteciam sempre à noite levando pânico aos moradores de muitas cidades do condado. Patrulhas armadas de policiais e moradores foram organizadas para pegar o agressor mas sem sucesso. Diferente do que aconteceria depois em Mattoon, em Botetourt, as autoridades consideraram os laudos médicos que identificaram como reais todos os casos tratados de inalação do tal gás misterioso. Um dos últimos ataques registrados ocorreu no condado de Roanoke. A vítima encontrou um trecho de neve descolorida com uma substância oleosa e de cheiro doce que depois de analisada foi identificada como sendo uma mistura de enxofre e outros elementos químicos. As pegadas encontadas eram de uma mulher.
Em Mattoon e Botetourt, os principais efeitos físicos eram os mesmos: um cheiro doce e enjoativo, náusea, paralisia, inchaço facial e perda da consciência. Estes efeitos foram confirmados pelos médicos que nos dois casos sentiram o cheiro do gás. Os dois gaseadores fizeram vários ataque a uma mesma família e múltiplos ataques numa mesma noite.O padrão da explicação também foi semelhante, indo da simples brincadeira aos lunáticos e à histeria.
À histeria foi legada a causa destas estranhas ocorrências que inclusive tornaram-se um postulado clássico quando o assunto é um caso de pânico coletivo sem causa física real. A histeria é a estratégia perfeita para se culpar a vítima. O que realmente aconteceu em épocas distintas naquelas duas localidades americanas, deixou um campo aberto para discussões.
